31/03/11

Algo está a falhar...


«O Relatório dos Registos das Interrupções de Gravidez ontem divulgado pela Direcção-Geral da Saúde indica que foram 18.911 os abortos por opção da mulher feitos em 2010 (19.222, em 2009). Somando os abortos efectuados por outros motivos (como risco de vida para a mãe, a malformação do feto ou a violação), os números de interrupção de gravidez sobem para 19.436 no ano passado, quando no ano anterior tinham ascendido a 19.848.

Antes da lei que permite a interrupção de gravidez por opção da mulher até às 10 semanas ser aprovada e entrar em vigor (em 15 de Julho de 2007), as estimativas apontavam para cerca de 20 mil abortos por ano, mas os números nunca chegaram a este valor, sublinham os autores do documento. Em três anos e meio, o total de abortos ascende a 64.178.

A análise comparativa com dados internacionais indica que a proporção de abortos em Portugal relativamente ao número de nados-vivos é inferior à de países como a Noruega, Espanha, Itália e o Reino Unido, ainda que superior às da Finlândia e Países Baixos. Apesar da diminuição verificada, os autores do relatório reflectem que a redução do número de gravidezes não desejadas "deve assentar numa estratégia sustentada de educação sexual, acessibilidade a métodos contraceptivos e promoção da contracepção segura e eficaz". Sublinham ainda que o método contraceptivo é muitas vezes escolhido e iniciado durante o processo de interrupção de gravidez.

São as mulheres com idades compreendidas entre os 20 e os 34 anos que mais interrompem a gravidez (dois terços do total). Mas 101 tinham menos de 15 anos. A proporção de abortos em mulheres de nacionalidade não portuguesa manteve-se ao mesmo nível de 2009, cerca de 18 por cento. E quase metade das mulheres que abortam vive em regime de coabitação.

A maior parte dos abortos foram feitos no SNS (hospitais e centros de saúde), 97 por cento das quais com medicamentos. Quanto às interrupções de gravidez no sector privado, essas foram quase todas praticadas com métodos cirúrgicos. Apesar de a lei permitir às mulheres abortar até às 10 semanas de gravidez, quase um quarto do total daquelas que recorreram a clínicas privadas dirigiram-se aí por iniciativa própria, sem terem sido encaminhadas pelo SNS, o que significa que pagaram pela intervenção.

Mais de metade tinham um ou dois filhos e três quartos declararam que nunca tinham feito abortos. Das que admitiram ter interrompido a gravidez antes, 1,9 por cento tinha-o feito em 2010, 6,4 por cento em 2009 e 4,6 em 2008.»

Ver notícia completa: Público

29/03/11

Desenhar sentimentos

Como se diz um sentimento?... E se for através do desenho?...





Brainstorming

Ontem à noite, no Porto, o primeiro desafio foi pensar e dizer o que é a Sexualidade... Aqui fica o resultado.

Ser mais e melhor, é sempre possível!

De sorrisos alegres e olhares curiosos, chegaram. De mãos abertas e com papel se apresentaram. Pensaram, questionaram, partilharam. Como fazer? O que responder? Até onde onde ir? Vieram medos, mas também força e soluções para os enfrentar. Acima de tudo, a vontade de ser mais e melhor, de estar mais presente para os alunos, de os ajudar a desenvolverem-se na sua plenitude.

Obrigada às colegas que se disponibilizaram a participar no Workshop "Dar Lugar aos Afectos", no HUB Porto, ontem.

Até breve, com a certeza que não há impossíveis para quem acredita na educação!

24/03/11

Quando e como falar? O eterno dilema...

Dos segredos do coração...


Às vezes, contar uma história é a melhor forma de fazer pensar e falar sobre alguns dos temas mais difíceis. "Um Segredo do Bosque", da Editora OQO, é um excelente exemplo de como podemos, a partir de uma história aparentemente tão simples, reflectir as questões associadas à homossexualidade. É, acima de tudo, um livro que fala de afectos, de amor. Não só para os mais pequeninos, mas para nós, mais crescidos, também. Imperdível!

Desde que o conheceu, o Esquilo não conseguia tirá-lo da cabeça. Quando pensava nele, nublava-se-lhe a vista, a voz fugia, o estômago ficava como uma pedra… é que… o esquilo estava apaixonado! O seu segredo percorreu todos os cantos do bosque. Muitos opinavam que era uma loucura, mas quando chegou o Outono…

Javier Sobrino apresenta-nos uma adorável e assombrosa história de amor, onde as diferenças não constituem uma dificuldade para as relações. Utilizando os animais do bosque como recurso para comunicar com o jovem leitor, Um Segredo do Bosque utiliza uma linguagem universal, a dos afectos, para falar do amor aos mais pequenos e de como assumir os sentimentos.

Para saber mais: OQO Editora

22/03/11

Ainda a Carta de Aveiro...

No I Congresso Internacional Sexualidade e Educação Sexual, realizado na Universidade de Aveiro, em Novembro de 2010, foi aprovada a Carta de Aveiro, que aqui apresentamos.
No documento lê-se, entre outras coisas, que “a educação em sexualidade deve integrar os currículos escolares em todos os níveis e sectores de educação e ensino, da Educação de Infância ao Ensino Superior no quadro de uma formação ao longo da vida”.
Para a presidente da comissão organizadora do congresso, Filomena Teixeira, a educação sexual deve começar "o mais cedo possível", nomeadamente ao nível do pré-escolar, "que é quando se começam a distinguir os meninos das meninas". "É nesta fase, entre os três e os quatro anos, que surgem as primeiras perguntas sobre a sexualidade, do tipo como é que os bebés nascem", lembra a especialista.
Outra das 16 propostas incluídas na Carta é que os professores devem ter acesso a cursos de especialização, pós-graduação e de extensão em sexualidade e educação sexual para "superarem constrangimentos" e abordarem este tema de forma "integral e compreensiva".
O documento, baseado em resultados de investigação, relatos de práticas pedagógicas e projectos de intervenção comunitária, propõe ainda a regulação de produção de conteúdos veiculados pelos media que evite a difusão de informações "erróneas e degradantes" sobre sexualidade e género.
Aqui fica o documento, para consultar e reflectir.

18/03/11

Dar vida a um desenho


Há inúmeras actividades que se podem utilizar para explorar a questão da sexualidade com as crianças, neste caso o corpo em crescimento. Esta é apenas mais uma...

ACTIVIDADE:

Partindo do desenho dos contornos do corpo de um rapaz e de uma rapariga em folhas de papel de cenário, criar duas personagens que acompanhem uma sucessão de actividades. Com base nessas personagens podem-se ir adquirindo conhecimentos acerca do corpo humano, desenhando e designando as suas diferentes componentes anatómicas exteriores, como os olhos, a boca, os pés, incluindo também os orgãos genitais. A função de vários orgãos e sistemas, incluindo o reprodutor, também pode ser abordada.
Para além disso, é fundamental também a integração destas personagens nas fantasias colectivas das crianças: com elas podem inventar situações de “faz-de-conta”, em busca de novas descobertas, nomeadamente no que diz respeito à igualdade de género e à expressão dos afectos.

14/03/11

Poemas para falar do coração


E porque não partir da poesia para o debate, para a partilha de emoções e sentimentos? Há uma infinidade de poemas que podem ser utilizados para promover a expressão de dúvidas, sentimentos, receios ou experiências. Este livro é apenas um exemplo, curioso, porque antes de ser editado foi lido por muito alunos, que o tornaram ainda mais apetecível. Porque afinal, através de um simples poema podemos falar ao coração, do coração...

PARA

Para ter uma casa com janelas
os teus olhos roubados

para descansar à sombra das videiras
os teus braços enxertados

para ter onde reclinar a cabeça
o teu ventre acariciado

para abrir a cancela
as tuas pernas altas

para amassar o pão
o fermento da boca

para morrer em paz
o teu corpo

(a minha sepultura)

João Manuel Ribeiro, in "Amo-te. Poemas para Gritar ao Coração"

11/03/11

O papel da escola...


Pergunta-se muitas vezes qual é, ou deve ser, o papel da escola na Educação Sexual. As opiniões e perspectivas são muitas e díspares. Mas não fará sentido esta?...

"Vivemos num meio socio-cultural com um discurso, um arremedo da experiência sexual humana. Se a educação geral faculta ao aluno conhecimentos para compreender as experiências, porque não deverá a escola facultar espaços de elaboração (atitudes e conhecimentos) para poder compreender a experiência sexual humana? A escola deve tornar-se uma referência, face aos disparates difundidos pelos meios de comunicação. A mensagem poderia ser esta: «Na rua ouvirás as coisas mais disparatadas, na escola trataremos da questão com coerência». Para esta tarefa estamos convencidos de que, mais do que especialistas, o que é necessário é bom senso, o que implica um abanão no profissionalismo dos professores. Entendemos o papel dos especialistas, mais como apoio, formação do professorado e intervenção especializada, que como responsáveis directos pela educação sexual na escola."

Javier Gomez Zapiain, in "Sexualidade e Planeamento Familiar"

Desenvolvimento sexual nos bebés


Pode ser difícil acreditar que os bebés recém-nascidos se desenvolvem a nível sexual. Porém, em alguns pontos, os primeiros 18 meses de vida constituem um dos períodos mais importantes para aprender sobre o amor e sobre o toque, e para se desenvolver um sentimento de confiança no mundo que os rodeia. É durante estes meses que os bebés aprendem que são amados e como amar, através dos nossos beijos, abraços e quando falamos com eles.

(...) De facto, o desenvolvimento sexual biológico inicia-se durante a gravidez. Os sexologistas costumavam dizer que os seres humanos eram seres sexuais desde o seu nascimento até à sua morte. A recente tecnologia ultra-som constatou que os sistema de resposta sexual se começa a desenvolver nos fetos do sexo masculino em meados do período de gestação. A resposta eréctil começa a aparecer mais ou menos às 16 semanas; a função respiratória apenas se inicia 12 semanas mais tarde. E, embora a resposta sexual nos fetos do sexo feminino não seja imediatamente observável, pensa-se que a capacidade de lubrificação também se inicia nesta altura.


Durante os primeiros meses de vida, os bebés começam a descobrir os seus corpos. Com 7 ou 8 meses, começam a descobrir os seus corpos. Com 7 ou 8 meses, começam a descobrir as suas mãos e os seus dedos dos pés. Mais ou menos na mesma altura, os rapazes descobrem os seus pénis. Normalmente, as raparigas começam a descobrir as suas vulvas cerca de dois meses depois. Os bebés adoram colocar os seus dedos das mãos e dos pés na boca e adoram tocar nos seus órgãos genitais. Embora possa ficar surpreendido, os bebés do sexo masculino têm erecções regularmente ao longo do dia e durante o sono, cerca de duas a três vezes por noite. De facto, os bebés do sexo masculino podem ficar com o pénis erecto apenas por chorarem, tossirem, esticarem-se ou urinarem. Os cientistas acreditam que as vaginas dos bebés dos sexo feminino se lubrifiquem mais ou menos com a mesma frequência, embora, por razões óbvias, isto não seja facilmente observável e ainda não existam estudos sobre o assunto.

Debra Hafner, in "A Criança e a Educação Sexual"

Conversas no Pavilhão do Conhecimento


CONVERSAS SEXO… E ENTÃO?!

26 MAR | Família e a orientação sexual

E quando um(a) jovem não é heterossexual?
Que desafios encontra dentro e fora de casa?
As famílias também saem do armário?

O papel das organizações com a Associação Amplos - Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género e rede ex aequo - Associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes

A importância política da visibilidade com Miguel Vale de Almeida (antropólogo, ISCTE-IUL)

No auditório do Pavilhão do Conhecimento, às 16h30.
Entrada livre.

10/03/11

Por onde anda o amor na Educação Sexual?


Enquanto persistir uma visão que separa a natural ligação entre corpo e mente, quer dizer, enquanto se debaterem medidas de intervenção nas vivências da sexualidade de forma desintegrada do espaço afectivo, é impossível ir muito longe. Fica-se pela superficialidade da situação, fala-se do que é mecânico, esquecendo-se o mental, tocando por fora, omitindo o que vai por dentro. De facto, do que muitos desses adolescentes necessitam, é de alguém que os escute, que lhes fale ao mais particular de cada um, que os contenha e organize emocionalmente, que se ofereça como modelo de relação afectiva que assim, só assim, lhes toque no coração, lá onde moram os sentimentos, se elaboram os impulsos, se afirma a razão. E a isso chama-se amor.

Pedro Strecht, in "Vontade de Ser - Textos sobre Adolescência"

05/03/11

As respostas das crianças

Uma das maiores dificuldades que surgem aos educadores quando se confrontam com a Educação Sexual é como responder às perguntas "difíceis" que as crianças colocam. Mas o que será que elas querem ou precisam de saber? Não estaremos muitas vezes a dar respostas que elas ainda não precisam? Aqui ficam algumas das respostas que elas dão às mesmas perguntas que muitas vezes fazem...

Dar lugar aos afectos, no Porto


04/03/11

Do medo construir escadas


Segundo a Organização Mundial de Saúde, a sexualidade é “(...) uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental.” A mesma organização tem referido a necessidade urgente de formação nesta área.

Recentemente, a Lei n.º 60/2009 de 6 de Agosto, que "Estabelece o regime de aplicação da Educação Sexual em meio escolar”, veio tornar obrigatória a abordagem da Educação Sexual em contexto de sala de aula, pela necessidade de uma abordagem do tema de uma forma explícita, intencional e pedagogicamente estruturada.

Compreensivelmente, os professores nem sempre se sentem preparados para apoiar de forma competente e adequada os alunos no que diz respeito à Educação Sexual. Urge, então, encontrar-se espaço na dinâmica escolar para que os mesmos tenham um contacto mais próximo com estas questões de modo a sentirem-se mais seguros relativamente à temática da sexualidade. É, por isso, de primordial importância que aprofundem os seus conhecimentos e desenvolvam as suas competências nesta área, quer no domínio teórico, quer no domínio prático. 

Foi com esse objectivo que surgiu este espaço, para servir como suporte às acções de formação de professores desenvolvidas no âmbito da Educação Sexual, bem como para fomentar a partilha de experiências e de reflexões no que à mesma diz respeito.

E mesmo no meio de tanta angústia que este tema naturalmente provoca, há sempre uma certeza...

De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar....
Portanto, devemos
Fazer da interrupção um caminho novo ...
da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro...

Fernando Sabino, in O Encontro Marcado

Sejam bem-vindos!