04/04/11

Violência no namoro é preocupante


Entrevista a Elza Pais, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, segundo a qual "a violência no namoro é um fenómeno emergente".

"Em termos de vítimas de violência doméstica quais são as principais vítimas directas?

Continuam a ser as mulheres. (...) O maior tipo de violência é psicológica, seguida da física e da sexual. Por exemplo, 25% a 35% das pessoas com idades entre os 13 e 19 anos consideram que não há violência sexual no namoro. Ou seja, entende qualquer cedência sexual no quadro do namoro como um gesto de amor. Isto é gravíssimo do ponto de vista dos valores e da representação.

Essa é uma das razões por que lançaram uma campanha contra a violência no namoro?

Sim, foi por isso que elegemos esse tema. Dados do Conselho da Europa indicam que 12% a 15% das mulheres com mais de 16 anos passam por situações de abusos nas relações amorosas. E o estudo da Universidade do Minho indica que os jovens têm uma percepção errada da violência no namoro.

O que é que justifica esse tipo de percepção ?

Estamos perante um fenómeno preocupante e emergente, mas a realidade sociológica também mudou muito. Há uns anos não se falava na união de facto antes do primeiro casamento e, hoje, ninguém vai para uma relação de casamento formal sem ter experimentado uma união de facto. Este estatuto de ambivalência em que os jovens, por um lado, são chamados cada vez mais cedo a assumir responsabilidades e a tomarem decisões e, por outro, entram cada vez mais tarde no mercado de trabalho, coloca-os numa situação complexa do ponto da intervenção cívica. Responsabilizamos e, depois, desresponsabilizamos. Analisado no quadro dos afectos, isto leva a uma organização problemática da própria afectividade.

Têm muitas queixas de namorados?

Esta população ainda não se queixa. Temos recebido muitos telefonemas, mas não é em percentagem tão significativa como as da população adulta. Até porque, embora o crime de violência doméstica seja crime público desde 2000, só o passou a ser para os jovens [idosos, crianças, homossexuais, namorados] com a revisão do Código Penal, em 2007. Houve também uma alteração legislativa. Mas o objectivo da campanha não é tanto promover a apresentação de queixas, mas a de promover a construção de novas representações dos afectos. Pretendemos combater uma representação errada dos afectos."

Ler entrevista completa aqui.

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